sábado, 11 de outubro de 2008

Perguntas de um espectador que teme ser convertido


Será o futebol uma forma de hipnotismo de massa, de dominação da mente, de idolatria, de irracionalidade, por um símbolo , uma cor, um "time"?
O que é este momento único, embora esparso, ocasional, ainda que costumeiramente semanal, em que uma multidão ( milhares, muitos milhares) de torcedores se sente mais forte quanto mais grande se torna, quanto mais seu grito ecoa e ressoa nos estádios e nas ruas, como se pudesse, a partir do que acontece dentro de um retângulo de grama,
apossar-se das chaves do destino?
O que ocorre nestes momentos em que o grito mesmo desafinado ou ao fim já rouco de cada um de seus indivíduos anônimos se torna um brado, um grito de guerra, em que homens de hábitos simples, metódicos, operários, burgueses, funcionários, pequenos comerciantes e estudantes, e mais recentemente donzelas e donas de casa, se tornam"xavantes" e reverenciam seus guerreiros, seus pajés, suas divindades ?
Espero que Deus possa me perdoar mas que vontade, em vez de estar escrevendo sobre o fenômeno, de estar na arquibancada e me deixar incendiar, me deixar tomar por esta forma de paganismo e de êxtase.
Mas estar bem lá no meio, no núcleo ardente do vulcão, junto à charanga, é uma prova para iniciados. ( P.R.Baptista)

Nota: A filmagem inserida nesta postagem é produzida pelo Blog Xavante e tem a participação de Marcelo Barboza, Daniel Brahm e Samuel Mancini responsáveis pelo blog. A eles meus agradecimentos por terem concordado com a inserção e parabéns pelo valioso trabalho.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Solidão dos Estádios Cheios

Muitos anos depois encontro-me quase exatamente no mesmo lugar em que presenciei o meu Gol Inesquecível.
Não me lembro dos detalhes daquele dia mas o estádio devia estar cheio como hoje.
Talvez com menos público, não sei, porque o estádio foi ampliado, não havia, quero crer, esta arquibancada onde me encontro.
Mas o clima, a sensação, guardam semelhanças.
A ausência que sinto é de meu pai mas, ao meu lado, está o meu filho.
Os estádios tornam-me , assim, testemunhos de uma evolução histórica, do passar de gerações.
Observa-se, por exemplo, como dado exterior significativo, uma grande presença de mulheres,
fato antes inexistente quando eram poucas, muito poucas, as mulheres que se encorajavam a
enfrentar as reações selvagens ( machistas diríamos hoje) da arquibancada.
Esta presença, é interessante lembrar, tem a incentivá-la a gratuidade do ingresso mas a decorrência é um genuíno interesse em presenciar os jogos.
As mulheres são até as que mais se emocionam, o que exteriorizam com intenso alarido.
Algo , no entanto, parece não se alterar.
As reações da torcida no seu todo continuam as mesmas e as mudanças parecem se dar mais a nível de aspectos exteriores do que de algo que se estabelecesse em seu âmago.
E por mais que os torcedores comunguem, durante a breve duração de um jogo, de emoções que parecem uni-los numa grande massa solidária, homogênea e exultante, e deste grande sentimento comum que é torcer por um time, na realidade naqueles momentos, cada um não deixa de estar sozinho consigo mesmo.
E os estádios, nestes momentos, por mais cheios que se encontrem, é como se fossem estádios vazios.
É nisto que penso enquanto contemplo entre reflexivo e melancólico, as sombras avançarem sobre o gramado prenunciando o fim da tarde ( e o fim do jogo) que chega.
Lá dentro absortos em sua missão, alguns homens fardados de calções e camisetas coloridas andam de um lado para o outro buscando acordar a grande massa, acotovelada nas arquibancadas e silenciosa, com algum lance que os faça se sentirem justificados de estarem presentes.
Enquanto isto não acontece dá a impressão de que reina no estádio um grande silêncio, mas na realidade é um silêncio imaginário porque há gritos e um grande batuque.
Mas acima desta agitação paira a grande solidão do estádio.
Pelo menos até que, nos minutos de desconto, o time da casa, de camisetas vermelhas, faz o gol de empate ( pois a vitória ficou inacessível).
Neste momento, por uns instantes, uns breves instante, a solidão pareceu dissipar-se e todos ficamos juntos, unidos, lado a lado, superiores a tudo, superiores à própria solidão, à grande solidão dos estádios cheios.(P.R.Baptista)

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