Muitos anos depois encontro-me quase exatamente no mesmo lugar em que presenciei o meu Gol Inesquecível.
Não me lembro dos detalhes daquele dia mas o estádio devia estar cheio como hoje.
Talvez com menos público, não sei, porque o estádio foi ampliado, não havia, quero crer, esta arquibancada onde me encontro.
Mas o clima, a sensação, guardam semelhanças.
A ausência que sinto é de meu pai mas, ao meu lado, está o meu filho.
Os estádios tornam-me , assim, testemunhos de uma evolução histórica, do passar de gerações.
Observa-se, por exemplo, como dado exterior significativo, uma grande presença de mulheres,
fato antes inexistente quando eram poucas, muito poucas, as mulheres que se encorajavam a
enfrentar as reações selvagens ( machistas diríamos hoje) da arquibancada.
Esta presença, é interessante lembrar, tem a incentivá-la a gratuidade do ingresso mas a decorrência é um genuíno interesse em presenciar os jogos.
As mulheres são até as que mais se emocionam, o que exteriorizam com intenso alarido.
Algo , no entanto, parece não se alterar.
As reações da torcida no seu todo continuam as mesmas e as mudanças parecem se dar mais a nível de aspectos exteriores do que de algo que se estabelecesse em seu âmago.
E por mais que os torcedores comunguem, durante a breve duração de um jogo, de emoções que parecem uni-los numa grande massa solidária, homogênea e exultante, e deste grande sentimento comum que é torcer por um time, na realidade naqueles momentos, cada um não deixa de estar sozinho consigo mesmo.
E os estádios, nestes momentos, por mais cheios que se encontrem, é como se fossem estádios vazios.
É nisto que penso enquanto contemplo entre reflexivo e melancólico, as sombras avançarem sobre o gramado prenunciando o fim da tarde ( e o fim do jogo) que chega.
Lá dentro absortos em sua missão, alguns homens fardados de calções e camisetas coloridas andam de um lado para o outro buscando acordar a grande massa, acotovelada nas arquibancadas e silenciosa, com algum lance que os faça se sentirem justificados de estarem presentes.
Enquanto isto não acontece dá a impressão de que reina no estádio um grande silêncio, mas na realidade é um silêncio imaginário porque há gritos e um grande batuque.
Mas acima desta agitação paira a grande solidão do estádio.
Pelo menos até que, nos minutos de desconto, o time da casa, de camisetas vermelhas, faz o gol de empate ( pois a vitória ficou inacessível).
Neste momento, por uns instantes, uns breves instante, a solidão pareceu dissipar-se e todos ficamos juntos, unidos, lado a lado, superiores a tudo, superiores à própria solidão, à grande solidão dos estádios cheios.(P.R.Baptista)
" De Nelson Rodrigues, considerado o maior cronista de futebol, se disse que o que lhe interessa nunca é o esporte em si. O estádio, os jogadores e a multidão não passam de um grande cenário, um pano de fundo para o que realmente representa, na visão do autor, uma partida de futebol: a metáfora da batalha vital de paixões e de tragédias que move a existência humana. Pergunto-me o que diria e o que escreveria se tivesse conhecido o xavante e a torcida rubro-negra, a xavantada..."
terça-feira, 23 de setembro de 2008
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