Vinda de uma campanha nos últimos anos memorável, com a conquista , em meio a outras vitórias importantes em amistosos, da Copa América, da Copa das Confederações e a classificação antecipada, em primeiro lugar, das eliminatórias, a seleção brasileira nos 45 minutos do segundo tempo contra a Holanda viu tudo naufragar.
Em alguns momentos, debaixo da tempestade provocada através dos meios de comunicação por comentaristas, um deles com a espécie ameaçada de extinção, que assumem o papel de profetas e arautos, este naufrágio parecia iminente.
Mas só se consumou nesta Copa, nas quartas de final, diante de um adversário respeitável mas que, por enquanto, ainda não ganhou nenhum Mundial. Aliás as Copas nem sempre foram ganhas pelas favoritas nem por aquelas melhor qualificadas tecnicamente.
Começando pela derrota do Brasil na Copa de 50 ,vencida pelo Uruguai, tivemos ainda pelo menos as derrotas da Hungria em 54, da Holanda em 74 e do Brasil em 82 embora todas elas equipes que sobravam futebolisticamente .
Nessa Copa o Uruguai que, nas eliminatórias, perdeu para o Brasil por 4 a zero em Montevidéu e se classificou na repescagem, é o representante sul-americano remanescente na fase final ainda que com méritos.
A Copa do Mundo demonstra, assim, que por suas características nem sempre favorece as equipes melhor qualificadas.
A derrota da canarinho este ano, no entanto, não se deu sem luta, sem garra, quase desespero.
Em outro desfecho “trágico”, nossa vizinha a Argentina também naufragava. Só que sem reagir, sem forças para esboçar reação diante de uma goleada que se diria “humilhante” e sem que a alardeada “garra” portenha se fizesse presente.
Derrotadas no campo de batalha as duas seleções retornam de imediato a seus países nos primeiros vôos disponíveis.
Algumas semelhanças , no entanto, terminam por aí.
Chegando ao Brasil a delegação é fustigada por um punhado de repórteres e torcedores, estes últimos tipicamente aqueles que não encontram nada melhor para fazer. Um retorno melancólico, indigno, salvo apenas, ao que consta, pelos aplausos que o treinador Dunga recebe ao retornar ao sul.
Enquanto isto, mais ainda ao sul, em Buenos Aires, a delegação argentina é ovacionada ao retornar , onde a espera uma multidão maior do que a presente na despedida antes da Copa.
Em parte a manifestação pode ter a ver com o apoio a Maradona, apoio em alguns momentos meio fanático, e com o desejo de que permaneça como treinador na seleção.
Mas é também uma reação de solidariedade àqueles que procuraram, da melhor forma possível, representar o seu país, a sua pátria. Com bandeiras, tambores e camisetas, a recepção aos jogadores argentinos foi feita com cânticos e paixão num clima de jogo.
Entre os refrães um era dirigido ao Brasil que recebeu seus jogadores com insultos e agressões. "Brasilero, brasilero, que amargado se te ve, Maradona es más grande, es más grande que Pelé”.
A mesma Argentina que no campo de jogo tem sido superada pelo Brasil, consegue, assim, nos dar uma lição e nos superar em fidalguia.
Caberia, no mínimo, do mesmo modo como o presidente Lula se despediu da seleção em Brasília quando havia a perspectiva do hexacampeonato, ser recebida de novo e, assim como ocorreu no Chile, no Paraguai e certamente ocorrerá no Uruguai, ser dada uma demonstração de que a dignidade e o respeito melhor se demonstram na derrota.
" De Nelson Rodrigues, considerado o maior cronista de futebol, se disse que o que lhe interessa nunca é o esporte em si. O estádio, os jogadores e a multidão não passam de um grande cenário, um pano de fundo para o que realmente representa, na visão do autor, uma partida de futebol: a metáfora da batalha vital de paixões e de tragédias que move a existência humana. Pergunto-me o que diria e o que escreveria se tivesse conhecido o xavante e a torcida rubro-negra, a xavantada..."
terça-feira, 6 de julho de 2010
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