Vinda de uma campanha nos últimos anos memorável, com a conquista , em meio a outras vitórias importantes em amistosos, da Copa América, da Copa das Confederações e a classificação antecipada, em primeiro lugar, das eliminatórias, a seleção brasileira nos 45 minutos do segundo tempo contra a Holanda viu tudo naufragar.
Em alguns momentos, debaixo da tempestade provocada através dos meios de comunicação por comentaristas, um deles com a espécie ameaçada de extinção, que assumem o papel de profetas e arautos, este naufrágio parecia iminente.
Mas só se consumou nesta Copa, nas quartas de final, diante de um adversário respeitável mas que, por enquanto, ainda não ganhou nenhum Mundial. Aliás as Copas nem sempre foram ganhas pelas favoritas nem por aquelas melhor qualificadas tecnicamente.
Começando pela derrota do Brasil na Copa de 50 ,vencida pelo Uruguai, tivemos ainda pelo menos as derrotas da Hungria em 54, da Holanda em 74 e do Brasil em 82 embora todas elas equipes que sobravam futebolisticamente .
Nessa Copa o Uruguai que, nas eliminatórias, perdeu para o Brasil por 4 a zero em Montevidéu e se classificou na repescagem, é o representante sul-americano remanescente na fase final ainda que com méritos.
A Copa do Mundo demonstra, assim, que por suas características nem sempre favorece as equipes melhor qualificadas.
A derrota da canarinho este ano, no entanto, não se deu sem luta, sem garra, quase desespero.
Em outro desfecho “trágico”, nossa vizinha a Argentina também naufragava. Só que sem reagir, sem forças para esboçar reação diante de uma goleada que se diria “humilhante” e sem que a alardeada “garra” portenha se fizesse presente.
Derrotadas no campo de batalha as duas seleções retornam de imediato a seus países nos primeiros vôos disponíveis.
Algumas semelhanças , no entanto, terminam por aí.
Chegando ao Brasil a delegação é fustigada por um punhado de repórteres e torcedores, estes últimos tipicamente aqueles que não encontram nada melhor para fazer. Um retorno melancólico, indigno, salvo apenas, ao que consta, pelos aplausos que o treinador Dunga recebe ao retornar ao sul.
Enquanto isto, mais ainda ao sul, em Buenos Aires, a delegação argentina é ovacionada ao retornar , onde a espera uma multidão maior do que a presente na despedida antes da Copa.
Em parte a manifestação pode ter a ver com o apoio a Maradona, apoio em alguns momentos meio fanático, e com o desejo de que permaneça como treinador na seleção.
Mas é também uma reação de solidariedade àqueles que procuraram, da melhor forma possível, representar o seu país, a sua pátria. Com bandeiras, tambores e camisetas, a recepção aos jogadores argentinos foi feita com cânticos e paixão num clima de jogo.
Entre os refrães um era dirigido ao Brasil que recebeu seus jogadores com insultos e agressões. "Brasilero, brasilero, que amargado se te ve, Maradona es más grande, es más grande que Pelé”.
A mesma Argentina que no campo de jogo tem sido superada pelo Brasil, consegue, assim, nos dar uma lição e nos superar em fidalguia.
Caberia, no mínimo, do mesmo modo como o presidente Lula se despediu da seleção em Brasília quando havia a perspectiva do hexacampeonato, ser recebida de novo e, assim como ocorreu no Chile, no Paraguai e certamente ocorrerá no Uruguai, ser dada uma demonstração de que a dignidade e o respeito melhor se demonstram na derrota.

" De Nelson Rodrigues, considerado o maior cronista de futebol, se disse que o que lhe interessa nunca é o esporte em si. O estádio, os jogadores e a multidão não passam de um grande cenário, um pano de fundo para o que realmente representa, na visão do autor, uma partida de futebol: a metáfora da batalha vital de paixões e de tragédias que move a existência humana. Pergunto-me o que diria e o que escreveria se tivesse conhecido o xavante e a torcida rubro-negra, a xavantada..."
terça-feira, 6 de julho de 2010
domingo, 29 de novembro de 2009
Desabafo de um Torcedor

Ivan Schuster, torcedor rubro-negro, a partir dos fatos ocorridos no jogo contra o Internacional , de despedida do time xavante na temporada de 2009, que ficará para sempre marcada de forma dramática na lembrança de todos, faz um desabafo no Portal Xavante (http://www.portalxavante.com/ ) .
Sob o título “Lamentável” condena em termos indignados o procedimento de alguns espectadores presentes no estádio os quais, em um dado momento, provocaram o interrompimento do jogo ao jogarem objetos, inclusive pedras, dentro do gramado.
Num dado trecho afirma : Acham-se no direito de agredir e até matar, em nome de que, em nome de quem? Não em meu nome. Não em nome da Torcida Xavante e muito menos em nome do GEB. Não somos delinquentes, não somos covardes. Somos Torcedores dignos, apaixonados. Não queremos ser temidos, mas continuarmos a ser respeitados, admirados e até invejados. Somos a “Maior e Mais Fiel Torcida do Interior do RS”.
Considero o posicionamento deste torcedor exemplar em termos de apontar para uma postura nova que deve orientar todos que adotem a bandeira de um time e queiram o seu crescimento dentro de um clima em que a sociabilidade e formas sadias de participar dos eventos esportivos passem a prevalecer sobre interesses daninhos como o manifestado neste e em outros episódios relacionados ao futebol.
Parabéns a ele por colocar de público seu pensamento que tenho certeza é o da totalidade dos xavantes e compartilho de seu sentimento quando propõe, " pedir desculpas, em nome da grandeza de nosso clube, ao Sport Club Internacional, a FGF e a todos que assistiram as cenas lamentáveis. Ninguém merece ver aquilo. Tenho certeza que a diretoria do GEB tem trabalhado, e continuará trabalhando, para que nada disto ocorra."
Infelizmente mais do que a própria derrota em campo este fato trouxe desânimo a muitos torcedores.
Mas o time no todo saiu vitorioso e a torcida também. Num jogo em que necessitava reverter uma diferença de gols muito ampla, o estádio , no entanto, recebeu mais uma vez um grande público e brilhou, acima de tudo, a luz de um clube apaixonante. (P.R.Baptista)
Sob o título “Lamentável” condena em termos indignados o procedimento de alguns espectadores presentes no estádio os quais, em um dado momento, provocaram o interrompimento do jogo ao jogarem objetos, inclusive pedras, dentro do gramado.
Num dado trecho afirma : Acham-se no direito de agredir e até matar, em nome de que, em nome de quem? Não em meu nome. Não em nome da Torcida Xavante e muito menos em nome do GEB. Não somos delinquentes, não somos covardes. Somos Torcedores dignos, apaixonados. Não queremos ser temidos, mas continuarmos a ser respeitados, admirados e até invejados. Somos a “Maior e Mais Fiel Torcida do Interior do RS”.
Considero o posicionamento deste torcedor exemplar em termos de apontar para uma postura nova que deve orientar todos que adotem a bandeira de um time e queiram o seu crescimento dentro de um clima em que a sociabilidade e formas sadias de participar dos eventos esportivos passem a prevalecer sobre interesses daninhos como o manifestado neste e em outros episódios relacionados ao futebol.
Parabéns a ele por colocar de público seu pensamento que tenho certeza é o da totalidade dos xavantes e compartilho de seu sentimento quando propõe, " pedir desculpas, em nome da grandeza de nosso clube, ao Sport Club Internacional, a FGF e a todos que assistiram as cenas lamentáveis. Ninguém merece ver aquilo. Tenho certeza que a diretoria do GEB tem trabalhado, e continuará trabalhando, para que nada disto ocorra."
Infelizmente mais do que a própria derrota em campo este fato trouxe desânimo a muitos torcedores.
Mas o time no todo saiu vitorioso e a torcida também. Num jogo em que necessitava reverter uma diferença de gols muito ampla, o estádio , no entanto, recebeu mais uma vez um grande público e brilhou, acima de tudo, a luz de um clube apaixonante. (P.R.Baptista)
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Ivan Schuster,
P.R.Baptista
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Veados muito machos

"Não recordo o ano exato e nem qual o campeonato, mas era como só acontece com o meu GEB, uma disputa em âmbito nacional, mas foi por volta de 1999 ou 2000.
Eu estava morando em Curitiba, PR e soube que haveria um jogo em Paranaguá, cidade portuária distante aproximadamente 90 quilômetros de Curitiba, do time local, o Rio Branco contra o meu Grêmio Esportivo Brasil.
Em Curitiba, o Xavante é frequentemente citado como exemplo de paixão por parte da torcida e também pela grande quantidade de gaúchos que moram lá, principalmente os pelotenses formados na ETP.
Reunimos uma turma que lotou uma van alugada e um Monza e nos mandamos para lá, em número de 12 pessoas!
Chegando ao estádio, todos devidamente fardados, ao comprarmos os ingressos notamos desconcertamento do bilheteiro e vimos quando ele chamou o encarregado da segurança.
O encarregado quis saber se éramos os únicos torcedores e dissemos (mentimos) que não, pois estávamos a trabalho na cidade, mas que sabíamos que de Curitiba deveriam chegar uns 5 ônibus, fora os 10 que estavam vindo de Pelotas e de Santa Catarina.
O cara ficou danado pois disse que não tinha sido avisado de nada e improvisou um local para nós com cordas e 4 (quatro) policiais militares.
Nem preciso dizer a recepção que tivemos da torcida deles. Viados, era o que mais se ouvia!
Ainda bem que estava calor, pois o banho de cerveja que tomamos foi enorme.
Os times entram em campo, os jogadores do Brasil olham pra arquibancada e vêem aqueles 12 loucos pulando no meio da torcida adversária e vão até a tela.
O comandante dos policiais insiste em saber pelo resto dos ônibus que viriam e dissemos que não podíamos saber de nada, pois talvez estivessem presos na estrada etc. e tal.
Havia até uma rádio de Pelotas que entrevistou um de nós e nos chamou de heróis ( não lembro qual a rádio).
Para nossa sorte, infelizmente o Xavante estava mal e eles saíram vencedores, mas antes do jogo acabar eles nos chamaram para o meio deles para beber cerveja e acabamos contando que tudo era armação nossa pra não apanhar, quando um deles nos disse uma frase que nunca mais esquecerei:
VOCES SÃO VIADOS, MAS SÃO MUITO MACHOS PRÁ FAZER ISSO!
Depois disso, um palhaço pelotense quis ir para o meio deles com a camisa daquele timinho da Bento Gonçalves e acabou corrido e vaiado pela torcida do Rio Branco.
Nos convidaram a voltar a cidade para assar e saborear um verdadeiro churrasco gaúcho com eles, mas em seguida voltei para Pelotas e não sei se os que continuaram em Curitiba cumpriram a promessa.
Decididamente, só o Xavante para proporcionar alegrias e aventuras como essas. "
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Victor Silveira
domingo, 27 de setembro de 2009
Torcendo ( contra) da Sacada

Recebo do Victor Silveira, ex-aluno da Escola Técnica, em complemento à crônica O Interlagos Conversível, o seguinte comentário que é uma preciosidade enquanto testemunho da paixão rubro-negra:
"Sou técnico em eletrônica e trabalhei durante algum tempo para um primo do Jorge Fontoura.
Certa feita, ele me pediu que fosse até o apartamento do Jorge para instalar um home-theater e fazer as conexões necessárias com a TV a Cabo ao aparelho.
Ficamos acertado de que o Jorge me apanharia depois que saísse do cursinho onde ele estava dando aula, já que eu não sabia onde era.
Qual não foi a minha surpresa quando o Jorge parou o carro na Amarante, atrás da Boca do Lobo. O apartamento era no último andar
Após executar o serviço, não pude mais conter a minha curiosidade e perguntei:
Jorge, como que tu, um Xavante de carteirinha, consegues morar logo atrás do chiqueiro “deles”?
A resposta dele foi uma coisa de mestre:
Cara, em dia de jogo “deles” pego a minha cadeira, visto a minha camisa do Xavante e foguetes e me vou pra sacada!
A cada gol dos adversários eu solto foguetes, dou gargalhadas e os caras ficam doidos me olhando da arquibancada deles!
Não sei se ele mora ainda ali, mas se perguntarem, ele vai confirmar! "
"Sou técnico em eletrônica e trabalhei durante algum tempo para um primo do Jorge Fontoura.
Certa feita, ele me pediu que fosse até o apartamento do Jorge para instalar um home-theater e fazer as conexões necessárias com a TV a Cabo ao aparelho.
Ficamos acertado de que o Jorge me apanharia depois que saísse do cursinho onde ele estava dando aula, já que eu não sabia onde era.
Qual não foi a minha surpresa quando o Jorge parou o carro na Amarante, atrás da Boca do Lobo. O apartamento era no último andar
Após executar o serviço, não pude mais conter a minha curiosidade e perguntei:
Jorge, como que tu, um Xavante de carteirinha, consegues morar logo atrás do chiqueiro “deles”?
A resposta dele foi uma coisa de mestre:
Cara, em dia de jogo “deles” pego a minha cadeira, visto a minha camisa do Xavante e foguetes e me vou pra sacada!
A cada gol dos adversários eu solto foguetes, dou gargalhadas e os caras ficam doidos me olhando da arquibancada deles!
Não sei se ele mora ainda ali, mas se perguntarem, ele vai confirmar! "
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Victor Silveira
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
A Vaia

Jogando com o São José, quarta-feira dia 11, o time do Brasil , num dado momento do segundo tempo, sendo pressionado e colocando-se na defensiva, foi vaiado.
O fato, que teve algum destaque na imprensa me leva a fazer algumas considerações.
Costuma-se muitas vezes dizer, os cronistas esportivos em particular, que o torcedor, se foi ao campo e está pagando ingresso, tem o direito de vaiar contanto que não entre no terreno das ofensas pessoais ou formas de agressão física.
Isto em parte parece ter algum fundamento pois é este torcedor que dá vida ao time, lhe dá sustentação com seu comparecimento e sua contribuição financeira.
Sem ele o clube não existe.
Mas, por outro lado, há algumas particularidades que precisariam ser consideradas.
Observando a classificação observo que, neste momento, o Brasil faz uma campanha vitoriosa com a maior soma de pontos entre todos os times participantes considerando ainda que tem um jogo a menos.
Ou seja, dentro dos parâmetros de uma competição em que outras equipes também tem suas qualificações, o saldo é obviamente muito positivo.
Posso entender que, episodicamente, no desenrolar de um jogo, o time não acompanhando o ritmo que se espera, o torcedor como demonstração de sua impaciência e de sua decepção, reaja através da vaia.
È a sua forma de se fazer ouvir, de fazer ecoar pelo estádio sua indagação: “qual é? nós estamos aqui, não esqueça que isto não é um treino, pagamos para ver espetáculo, ver jogo, ver empenho, vamos correr, vamos disputar, vamos dividir!”
Mas, por vezes, a vaia pode ser injustificada e especialmente cruel , sobretudo quando dirigida não à equipe como um todo mas a algum jogador em particular.
No geral, no entanto, a vaia costuma ser aceita e até apontada como uma manifestação de caráter democrático, como uma forma da multidão expressar seu sentimento de inconformidade. Há, aliás,vaias que se integram à história.
Um dos exemplos mais interessantes foi a promovida durante o III Festival Internacional da Canção de 1968 pelo público inconformado com a premiação em primeiro lugar da música “Sabiá” ( Chico/ Vinicius de Moraes) em lugar da sua favorita “Prá Não Dizer Que Não Falei Das Flores" de Geraldo Vandré.
No momento de se apresentar como segundo colocado,Vandré se depara com uma imensa vaia de protesto ao resultado, favorável portanto à sua música, e procura acalmar o público.
Todas as suas intervenções, contudo, inicialmente de defesa da música vencedora, a seguir do júri, parecem só servir de incentivo a vaias ainda mais ruidosas por parte do público que grita: “é marmelada, é marmelada.”
Vandré tenta ainda argumentar iniciando a dizer: “prá voces que pensam que me apoiam vaiando ...” mas não consegue ir além disto e o efeito é tornar a vaia ainda mais estrondosa. Desiste, por fim, e trata de cantar sua música da forma como pode.
O que se depreende deste episódio é o entendimento de que a vaia tem sua lógica própria basicamente determinada pela convicção por parte do grupo que vaia, que sua ação se sobrepõe a todos os argumentos, não importa de quem possam advir nem qual seu conteúdo.
A vaia se apresenta assim como absoluta, ditatorial, sem comportar contestação, a não ser de outra vaia.
Cabe, então, perguntar, será realmente democrática?
Um outro exemplo de vaia, mais recente mas igualmente significativo, foi a recebida pelo presidente Lula na inauguração do Pan Americano, uma das vaias , aliás,
mais constrangedoras que tenho conhecimento.
A vaia surgiu assim que o nome do presidente foi anunciado para fazer a abertura oficial do evento.
Com o discurso pronto na mão Lula ainda ensaia sair do lugar de honra em que se encontra mas , percebendo que seria impossível falar , não se dirige para o palanque. Neste momento, o presidente da cerimônia, percebendo o impasse, acaba dando continuidade à abertura sem a fala presidencial.
Mas voltando ao jogo quero concluir que embora exercitando, como disse , algo que é apontado como um direito, o torcedor não pode esquecer que dentro do campo estão seres humanos , que fazem do futebol sua profissão, com suas fraquezas, seus problemas familiares, não necessariamente super-homens que vão furar a defesa adversária com super-poderes.
Há casos em que o torcedor se volta contra um jogador em particular, vaiando cada vez que ele se aproxima da bola.
Fico imaginando este homem chegando em casa, depois de um jogo noturno, cansado, extenuado, com lesões e escoriações pelo corpo, com os apupos e as ofensas ainda ecoando nos ouvidos, algumas ofensas bem diretas toda vez que chega perto do alambrado para buscar a bola num lateral.
Chega se discretamente, envergonhado de encontrar a mulher e o filho de 7 anos que acaba de acordar.
Mas ambos o estão esperando e o filho vai logo perguntando :
“ - Pai, como foi o jogo? “
Independentemente do resultado ( seu time pode até ter vencido) o que está muito presente em sua mente é a vaia e não sabe como omiti-la.
Queria sempre poder dizer a verdade ao filho como um elo de confiança entre eles.
Por isto só responde rapidamente
“ - Foi bom , mas me deu uma fome danada “ e se dirige ligeiro para a cozinha, sem dar mais explicações e evitando olhar seu filho.
O fato, que teve algum destaque na imprensa me leva a fazer algumas considerações.
Costuma-se muitas vezes dizer, os cronistas esportivos em particular, que o torcedor, se foi ao campo e está pagando ingresso, tem o direito de vaiar contanto que não entre no terreno das ofensas pessoais ou formas de agressão física.
Isto em parte parece ter algum fundamento pois é este torcedor que dá vida ao time, lhe dá sustentação com seu comparecimento e sua contribuição financeira.
Sem ele o clube não existe.
Mas, por outro lado, há algumas particularidades que precisariam ser consideradas.
Observando a classificação observo que, neste momento, o Brasil faz uma campanha vitoriosa com a maior soma de pontos entre todos os times participantes considerando ainda que tem um jogo a menos.
Ou seja, dentro dos parâmetros de uma competição em que outras equipes também tem suas qualificações, o saldo é obviamente muito positivo.
Posso entender que, episodicamente, no desenrolar de um jogo, o time não acompanhando o ritmo que se espera, o torcedor como demonstração de sua impaciência e de sua decepção, reaja através da vaia.
È a sua forma de se fazer ouvir, de fazer ecoar pelo estádio sua indagação: “qual é? nós estamos aqui, não esqueça que isto não é um treino, pagamos para ver espetáculo, ver jogo, ver empenho, vamos correr, vamos disputar, vamos dividir!”
Mas, por vezes, a vaia pode ser injustificada e especialmente cruel , sobretudo quando dirigida não à equipe como um todo mas a algum jogador em particular.
No geral, no entanto, a vaia costuma ser aceita e até apontada como uma manifestação de caráter democrático, como uma forma da multidão expressar seu sentimento de inconformidade. Há, aliás,vaias que se integram à história.
Um dos exemplos mais interessantes foi a promovida durante o III Festival Internacional da Canção de 1968 pelo público inconformado com a premiação em primeiro lugar da música “Sabiá” ( Chico/ Vinicius de Moraes) em lugar da sua favorita “Prá Não Dizer Que Não Falei Das Flores" de Geraldo Vandré.
No momento de se apresentar como segundo colocado,Vandré se depara com uma imensa vaia de protesto ao resultado, favorável portanto à sua música, e procura acalmar o público.
Todas as suas intervenções, contudo, inicialmente de defesa da música vencedora, a seguir do júri, parecem só servir de incentivo a vaias ainda mais ruidosas por parte do público que grita: “é marmelada, é marmelada.”
Vandré tenta ainda argumentar iniciando a dizer: “prá voces que pensam que me apoiam vaiando ...” mas não consegue ir além disto e o efeito é tornar a vaia ainda mais estrondosa. Desiste, por fim, e trata de cantar sua música da forma como pode.
O que se depreende deste episódio é o entendimento de que a vaia tem sua lógica própria basicamente determinada pela convicção por parte do grupo que vaia, que sua ação se sobrepõe a todos os argumentos, não importa de quem possam advir nem qual seu conteúdo.
A vaia se apresenta assim como absoluta, ditatorial, sem comportar contestação, a não ser de outra vaia.
Cabe, então, perguntar, será realmente democrática?
Um outro exemplo de vaia, mais recente mas igualmente significativo, foi a recebida pelo presidente Lula na inauguração do Pan Americano, uma das vaias , aliás,
mais constrangedoras que tenho conhecimento.
A vaia surgiu assim que o nome do presidente foi anunciado para fazer a abertura oficial do evento.
Com o discurso pronto na mão Lula ainda ensaia sair do lugar de honra em que se encontra mas , percebendo que seria impossível falar , não se dirige para o palanque. Neste momento, o presidente da cerimônia, percebendo o impasse, acaba dando continuidade à abertura sem a fala presidencial.
Mas voltando ao jogo quero concluir que embora exercitando, como disse , algo que é apontado como um direito, o torcedor não pode esquecer que dentro do campo estão seres humanos , que fazem do futebol sua profissão, com suas fraquezas, seus problemas familiares, não necessariamente super-homens que vão furar a defesa adversária com super-poderes.
Há casos em que o torcedor se volta contra um jogador em particular, vaiando cada vez que ele se aproxima da bola.
Fico imaginando este homem chegando em casa, depois de um jogo noturno, cansado, extenuado, com lesões e escoriações pelo corpo, com os apupos e as ofensas ainda ecoando nos ouvidos, algumas ofensas bem diretas toda vez que chega perto do alambrado para buscar a bola num lateral.
Chega se discretamente, envergonhado de encontrar a mulher e o filho de 7 anos que acaba de acordar.
Mas ambos o estão esperando e o filho vai logo perguntando :
“ - Pai, como foi o jogo? “
Independentemente do resultado ( seu time pode até ter vencido) o que está muito presente em sua mente é a vaia e não sabe como omiti-la.
Queria sempre poder dizer a verdade ao filho como um elo de confiança entre eles.
Por isto só responde rapidamente
“ - Foi bom , mas me deu uma fome danada “ e se dirige ligeiro para a cozinha, sem dar mais explicações e evitando olhar seu filho.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
É Paixão Pura
Recebo da Tânia Cabistany, jornalista, o texto que segue, com o comentário: "não é a primeira vez que assumo ser xavante. A primeira foi no artigo que escrevi depois da cobertura da tragédia, em janeiro. Mando ela abaixo para você também. Um abraço "vermelho" Tânia
É Paixão Pura
O Grêmio Esportivo Brasil completa 98 anos de fundação neste feriado de 7 de setembro, mas já está em contagem regressiva para o centenário. Em 2011, nos cem anos do time da Baixada, a passarela do samba vai ser pequena para a passagem da escola General Telles. Nada mais justo do que a entidade, também da Várzea, vizinha do Brasil e devidamente identificada com o rubro-negro, transforme em tema-enredo uma história de conquistas, uma trajetória de vitórias e até de derrotas, mas sobretudo de paixão extrema.
A torcida do Brasil é algo inexplicável. Se o time vence ela festeja, coloca para fora uma alegria sem fim; se perde ela permanece lá, do lado, dando força e acreditando. Sempre acredita, porque o rubro-negro é sua maior paixão. Já ouvi torcedores falando que o Xavante está acima de namoradas e mulheres. Não tem para ninguém em dia de jogo, não há quem segure em casa essas pessoas que vão para o estádio e jamais se cansam de acreditar, de empurrar o time durante os 90 minutos de partida. Não é à toa que no topo das arquibancadas está escrito: Sempre a maior e mais fiel.
São crianças, jovens, adultos, idosos. Homens e mulheres que se misturam à multidão vermelha que lota as arquibancadas do Bento Freitas. É um mar de gente que vibra, torce, grita, xinga, ri e chora. Mas não esmorece nunca. As manifestações das arquibancadas por vezes são extremamente divertidas. Em jogos sofridos, quando aquele gol tão esperado não vem, quando a bola vai e vai de novo, bate na trave mas não entra, já ouvi algo do tipo: "Ai minha safena!". É muita adrelina.
O Brasil não passou para a Série B, mas nem por isso o time perdeu o apoio dessa torcida maravilhosa, capaz de emocionar pela arte de manter o apoio incondicional, mesmo depois de aguentar a chuva torrencial e o frio que fazia na partida decisiva. O estádio estava lotado, creiam. No mesmo dia, logo depois do jogo, palavras de consolo, de crédito e de esperança estavam lá, em fileira de recados no orkut do jogador Alex Martins.
Assim são os torcedores xavantes, essa gente "vermelha" que em 2011 vai se unir ainda mais à General Telles, uma escola de samba que não tem apenas a mesma cor que simboliza o sangue e predomina na Baixada, mas que é a cara da Várzea, assim como o Brasil. Que me perdoe quem não é xavante, quem não é Telles. E para completar essa estreita ligação entre Carnaval e futebol chegou quem faltava: a Xavabanda. Manifestação popular é o que há de mais autêntico. Respeito todas as entidades carnavalescas, por quem tenho o maior carinho. Digo o mesmo em relação aos demais times. Falo aqui apenas do que vejo e sinto( Tânia Cabistany)
É Paixão Pura
O Grêmio Esportivo Brasil completa 98 anos de fundação neste feriado de 7 de setembro, mas já está em contagem regressiva para o centenário. Em 2011, nos cem anos do time da Baixada, a passarela do samba vai ser pequena para a passagem da escola General Telles. Nada mais justo do que a entidade, também da Várzea, vizinha do Brasil e devidamente identificada com o rubro-negro, transforme em tema-enredo uma história de conquistas, uma trajetória de vitórias e até de derrotas, mas sobretudo de paixão extrema.
A torcida do Brasil é algo inexplicável. Se o time vence ela festeja, coloca para fora uma alegria sem fim; se perde ela permanece lá, do lado, dando força e acreditando. Sempre acredita, porque o rubro-negro é sua maior paixão. Já ouvi torcedores falando que o Xavante está acima de namoradas e mulheres. Não tem para ninguém em dia de jogo, não há quem segure em casa essas pessoas que vão para o estádio e jamais se cansam de acreditar, de empurrar o time durante os 90 minutos de partida. Não é à toa que no topo das arquibancadas está escrito: Sempre a maior e mais fiel.
São crianças, jovens, adultos, idosos. Homens e mulheres que se misturam à multidão vermelha que lota as arquibancadas do Bento Freitas. É um mar de gente que vibra, torce, grita, xinga, ri e chora. Mas não esmorece nunca. As manifestações das arquibancadas por vezes são extremamente divertidas. Em jogos sofridos, quando aquele gol tão esperado não vem, quando a bola vai e vai de novo, bate na trave mas não entra, já ouvi algo do tipo: "Ai minha safena!". É muita adrelina.
O Brasil não passou para a Série B, mas nem por isso o time perdeu o apoio dessa torcida maravilhosa, capaz de emocionar pela arte de manter o apoio incondicional, mesmo depois de aguentar a chuva torrencial e o frio que fazia na partida decisiva. O estádio estava lotado, creiam. No mesmo dia, logo depois do jogo, palavras de consolo, de crédito e de esperança estavam lá, em fileira de recados no orkut do jogador Alex Martins.
Assim são os torcedores xavantes, essa gente "vermelha" que em 2011 vai se unir ainda mais à General Telles, uma escola de samba que não tem apenas a mesma cor que simboliza o sangue e predomina na Baixada, mas que é a cara da Várzea, assim como o Brasil. Que me perdoe quem não é xavante, quem não é Telles. E para completar essa estreita ligação entre Carnaval e futebol chegou quem faltava: a Xavabanda. Manifestação popular é o que há de mais autêntico. Respeito todas as entidades carnavalescas, por quem tenho o maior carinho. Digo o mesmo em relação aos demais times. Falo aqui apenas do que vejo e sinto( Tânia Cabistany)
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
O Interlagos Conversível

O Jorge acabou vendendo o carro, talvez se arrependa tanto quanto eu, e nunca mais vi aquela relíquia.
Para me consolar comprei um Puma, também conversível, mas não é a mesma coisa.
Agora fico conhecendo melhor seu trabalho como colunista.
Destaco, para incluir na seção Cronicas , "Meus 15 minutos de série B do brasileiro". Relatando como passou o dia do jogo com o América Mineiro, conclui dizendo : "lá se foi a minha festa, lá se foi a minha série B do Brasileiro...mas ainda nos resta a sèrie B do campeonato Gaúcho.Que venham os grandes:São Paulo,Guarani,Milan,Flamengo, Cruzeiro... é o que está nos esperando no ano que vem!"
Boa dosagem de esperança, de euforia e de desilusão. Mas sem perder o humor, sem perder, por um único instante, a alegria de ser xavante.(P.R.Baptista)
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